Acordou no seu quarto frio, e olhou lá para fora, pela pequena janela na porta. O cheiro a cinzento mostrava o pó seco colado a cada cilindro da sua maca. O Lambe Mãos havia sido preso, outra vez, no hospital. Tudo o que ele queria fazer era lamber mãos, mas, por alguma razão, havia sempre algo mais a acontecer, e que acabava por correr mal. O primeiro incidente teria ocorrido com o seu gordo e anafado pai, junto a um lago com patinhos bonitos e contentes. Tudo estava tão belo, e os patos não têm mãos, e a mãe estava longe, e as crianças brincavam, e o pai tinha mãos gordas e anafadas. Estava junto ao lago, ao pé das pedrinhas que davam para o lago. Então foi-se a ele, com a língua de fora, e a cabeça oval e desprovida de cabelo. Bofetada aqui, caiu no lago. Os peixinhos não têm mãos, e assim avançou às gordurosas e inchadas do pai. Foi muito intenso. Então, acordou no hospital. As seringas não têm mãos, mas precisam de mãos, só que amarrado não dá. Então esperneou, debateu-se com as cordas, gritava por mãos para lamber, mas não o verbalizava. Gritava. Quando a mãe apareceu, ele lambeu-lhe as mãos. Sorriu. A mãe chorou. “Ele não é agressivo, é mais isto de lamber as mãos. Como ele não tem…” havia passado uma fase oral incompleta. A sua carne havia sido amputada quando nasceu, com os braços por um fiozinho, atrofiados e sem piada. Este texto está a ficar demasiado escuro. De onde vem tanta merda?
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